segunda-feira, 30 de maio de 2011

É possível regulamentar a grande Rede?

Na semana passada, em Paris, aconteceu o Fórum e-G8. Proposto pelo presidente francês Nicolas Sarcozy, reuniu, além dos governantes representantes dos países integrantes do G8, os principais empresários do ramo da tecnologia, como Eric Schimidt, representante do Google, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, dentre outros.
O objetivo do encontro foi o de formular e discutir uma proposta conjunta sobre a melhor maneira de regulamentar a internet em todo o mundo. Sarcozy justificou que a regulamentação é necessária, dentre outras coisas, para coibir e punir casos de crimes virtuais, como a pedofilia e ações terroristas organizadas na rede, além de preservar os direitos autorais e a propriedade intelectual, para que “a web não acabe com a criação”, além de “promover a criatividade” e “evitar a criminalidade”.

No encontro, Sarcozy pregou uma série de recomendações aos integrantes do G8. "Enfrentamos desafios em harmonizar nossas políticas públicas de proteção de dados pessoais, neutralidade de rede, segurança da informação e propriedade intelectual", diz a proposta que foi encaminhada aos demais países integrantes do G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Canadá e Rússia).
Dirigindo-se aos empresários, Sarcozy afirmou que “o mundo que vocês representam não é um universo paralelo onde regras legais e morais e, de um modo mais geral, as regras básicas que governam a sociedade em países democráticos não se aplicam".
Além dessas questões, Sarcozy reconheceu um papel preponderante do Facebook nas revoluções ocorridas na Tunísia e Egito. Zuckerberg minimizou esta importância afirmando que “o Facebook não foi nem necessário nem suficiente. Se não tivesse sido pelo Facebook, teria sido através da ajuda de qualquer outra coisa”.

De fato, toda e qualquer má utilização da rede deve ser coibida e condenada, para que se proteja a privacidade e a segurança dos usuários da rede, mas a regulamentação não pode ser generalizada, como propõe Sarcozy. Pela postura de Sarcozy, fica claro que a preocupação evidente e legítima sobre a prevenção de crimes digitais se mistura pura e simplesmente com um desejo do presidente francês de controle político da internet. Postura essa não só de Sarcozy, mas, provavelmente, da maioria dos governantes. Sendo assim, medidas desse tipo podem ganhar um viés de autoritarismo.

A proposta, no entanto, não foi bem aceita pelos empresários. As empresas, as maiores e mais influentes do setor, mostraram ser contra qualquer tipo de cerceamento da liberdade na internet e ainda destacaram categoricamente que a auto-regulamentação da rede acontecerá com o tempo. Schimidt e Zuckerberg fizeram criticas e apontaram os erros do pensamento de Sarcozy: "A tecnologia sempre evoluirá mais rápido do que os governos, então é impossível criar leis antes de entender por completo as consequências de todas essas mudanças", disse Schmidt. Zuckerberg completou o raciocínio de Schimidt dizendo que os internautas decidirão, no futuro, o que será mais importante, deixar de compartilhar dados para proteger a privacidade ou fornecer informações pessoais aos serviços digitais, para permitir que estes se tornem mais eficientes. Além disso, os empresários pediram aos governos que facilitem o acesso da população à rede banda larga.
Como resultado, não houve um consenso entre governantes, empresários e intelectuais sobre a real importância ou não de regulamentar a rede.

O desenvolvimento da tecnologia, e por sua vez da Internet, propiciou ao mundo, inúmeras mudanças e benefícios, sociais, culturais, políticos, etc.
A partir da internet a comunicação se tornou mais dinâmica e direta. Tudo que acontece pelo mundo pode ser acompanhado em tempo real. Tudo está disponível na rede, músicas, filmes, notícias, ou qualquer outro tipo de conteúdo. Tudo está ai, ao alcance de todos. O que antes se baseava somente na recepção, agora se encontra em estado muito mais elevado. Cresceu infinitamente a produção e reprodução de conteúdos próprios dos usuários. Todos podem se comunicar entre si, de qualquer lugar, todos podem criticar, demonstrar opiniões ou pontos de vista. Sendo assim, a rede democratiza o acesso a todo tipo de conteúdo.

A regulamentação só será efetiva se for pautada no combate, prevenção e punição a crimes virtuais, para que a internet não seja utilizada para fins malignos, como afirma Sarcozy. Mas de forma alguma essa regulamentação pode interferir nas questões pessoais e individuais dos usuários, relacionadas a democracia e a liberdade de expressão.

A polêmica acerca da questão do controle político da internet é enorme. Muitas coisas ainda precisam ser discutidas e esclarecidas até que se tome uma decisão final sobre a implementação ou não de tal regulamentação.

Obs.: Apesar da noticia já estar um pouco ultrapassada, consideramos que essa discussão é de grande relevância para ser tratada neste blog.

Fontes:

Abril  
G1  
IDGNow  

quarta-feira, 11 de maio de 2011

WikiLeaks e a Transparência das Democracias

   A função principal deste blog é avaliar o desempenho dos governos democráticos e suas ações através de ferramentas como a internet, no sentido de atuação destes referidos governos ao lançar mão, voluntariamente, de tal aparato comunicacional. O blog Governo Eletrônico propõe-se a avaliar direcionalmente a iniciativa governamental de uso das ferramentas tecnológicas, para o fortalecimento da democracia e o aumento do contato entre governo e população.  Entretanto, desta vez, colocamos em pauta uma situação antagônica a essa democracia digital praticada voluntariamente pelos governos, e os segredos por eles escondidos. Para trazer à tona os fatos dos bastidores da diplomacia mundial eis que surge o WikiLeaks.


    Apesar da semelhança no nome, o WikiLeaks não tem vínculos com a Wikimedia Foundation, segundo consta em sua página de descrição na Wikipedia, é uma organização sem fins lucrativos e possui sede na Suécia. Seu fundador Julian Assange concentra em sua imagem os méritos, as críticas e os escândalos que envolvem o WikiLeaks.
A seguir, transpusemos as entrevistas cedidas pelos deputados europeus Christian Engström  (Verdes/Aliança Livre Européia), membro do partido pirata na Suécia, e Eduard Kukan (Partido Popular Europeu), ex-ministro dos negócios estrangeiros eslovaco.

No ano passado, o partido pirata decidiu colocar servidores à disposição do WikiLeaks. Não o considera um sítio perigoso?


Christian Engström: Claro que sim, consideramo-lo perigoso, sobretudo para os regimes corruptos, que têm coisas a esconder. É exactamente disso que nós gostamos. A transparência é muito importante para uma governação democrática. A tendência para camuflar existe em todo o lado. Mesmo um governo democrático como o norte-americano não quer revelar à opinião pública alguns dados, extremamente pertinentes. Sim, o WikiLeaks é perigoso para todos os que detêm o poder e escondem dados.


Na sua opinião, o WikiLeaks serve o interesse geral?


Eduard Kukan: Sou a favor da liberdade de expressão enquanto fundamento dos sistemas democráticos modernos. As actividades do WikiLeaks tiveram consequências, em parte danosas. Não penso que a sua intenção tenha sido revelar elementos positivos e construtivos, não considero que tenham tido uma atitude nobre nem respeitosa. Passei 30 anos na diplomacia e alguns dos problemas não têm de ser revelados a todos. É necessário criar um clima de confiança com os parceiros e aquilo que se prepara deve, por vezes, manter-se discreto. Alguns acordos e negociações podem deixar de ser firmados na sequência da revelação de documentos.


Há quem defenda que a transparência reforça as democracias. O WikiLeaks fez progredir a democracia no mundo?


Christian Engström: Sim, em grande parte porque a transparência é um dos elementos fundamentais da democracia. Para quê autorizar as pessoas a votar se, depois, não são informadas sobre o que o governo e a oposição fazem? Em democracia, os cidadãos devem fazer escolhas esclarecidas. O objectivo global do WikiLeaks é mostrar a todos os governos que não conseguirão mentir nem esconder determinados dados. Os governos vão começar a ser mais transparentes e honestos, como consequência indirecta do WikiLeaks.


Eduard Kukan: As publicações tiveram aspectos positivos, particularmente notórios em relação aos regimes ditatoriais. Não condeno tudo o que foi publicado mas temos de diferenciar aquilo que contribui para a liberdade de acesso à informação daquilo que pode colocar em perigo as relações pessoais entre políticos e homens de Estado.


Quem deveria então decidir o que pode e o que não pode ser revelado? Os dirigentes do WikiLeaks, os diplomatas, os políticos?


Christian Engström: Nenhum deles. Os dirigentes do WikiLeaks diriam a mesma coisa: aquilo que eles querem, aquilo que eu quero, é que haja muito mais sítios na Internet que orquestrem as fugas de documentos oficiais de forma segura. Se só existir um, teremos de estar atentos ao que faz com o seu poder. Se existirem vários, o problema desaparece.


Eduard Kukan: Os membros do WikiLeaks devem saber o que pode ser do domínio público e o que tem carácter secreto. Os critérios precisos, no meu entender, deveriam ser definidos pelos dirigentes políticos. Penso que seria um bom tema para um referendo: as ideias dos dirigentes são por vezes rejeitadas porque as pessoas não as compreendem mas com o tempo a história demonstra que tinham razão.


Qual poderá ser o impacto das « fugas WikiLeaks » na estrutura das relações internacionais e na forma como os diplomatas agem?


Christian Engström: O mundo, simplesmente, mudou. Todos os governos, embaixadas e detentores de poder devem saber que é muito mais difícil manter as informações secretas. É um dado positivo, particularmente para as relações entre os países. Queremos mais transparência. Cria um clima de confiança e reduz os riscos. Os grandes actores mundiais tendem a ser mais desconfiados quando não sabem aquilo que os seus homólogos prevêem. Era a lógica da Guerra Fria. A transparência vai ajudar a aliviar as tensões internacionais a longo prazo e iremos assistir à emergência de um mundo mais estável.


Eduard Kukan: Vai afectar as relações diplomáticas de forma negativa. Os que foram citados serão muito mais prudentes e menos abertos. Concordo, portanto, com quem considera que as revelações do WikiLeaks irão mudar as relações diplomáticas e a vida política mundial.


Entrevista cedida ao "Parlamento Europeu".




segunda-feira, 2 de maio de 2011

iPad sera produzido no Brasil

No dia 12/04, em uma viagem da presidente Dilma Roussef a China, foi confirmado que a Foxconn (empresa fundada em Taiwan, responsável pela fabricação dos iPad da Apple), passará a produzir os tablets da Apple no Brasil. A expectativa é que em dezembro já comecem a ser produzidos os aparelhos.
Segundo o Itamaraty, estima-se que a Foxconn tenha a intenção de investir US$ 12 bilhões no Brasil em 5 anos, podendo gerar cerca de 100 mil empregos no país.
Segundo o Ministro da Ciência e Tecnologia Aloísio Mercadante, a produção de iPads no Brasil está sendo estudada por um grupo de trabalho que envolvem os ministérios da Fazenda, de Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior e de Ciência e Tecnologia, além do BNDES.
A tendência é que, com a fabricação no Brasil, o valor do iPad sofra uma redução de até 31%, em comparação com os importados, já que o IPI cairia de 15% para 3%.
Apesar do acordo firmado, a Foxconn fez a Dilma Roussef um pacote de exigências para efetivar o investimento. A lista vai de Infraestrutura a garantia de investimentos, passando por investimentos na legislação fiscal. Confira as exigências:



Especula-se que a cidade escolhida pela Foxconn para a instalação de sua unidade produtora no Brasil seja São Paulo. Isso porque, no último dia 30 (sábado), segundo o Secretário de Estado do Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo Davi Zaia, disse que foi procurado por representantes da empresa Foxconn para ter garantias de que São Paulo teria condições de capacitar mão de obra para a fábrica de tablets, só não se sabe ainda qual a cidade que receberá os investimentos. Segundo Zaia, foi garantido aos representantes que o Governo de São Paulo terá condições de atender a demanda da empresa por capacitação de mão de obra, cerca de 35 mil trabalhadores através de cursos profissionalizantes.

Outra questão interessante, é que se concretizado este investimento no Brasil, o país aumentará sua dependência da China. Isso se dá porque o Brasil teria que importar da China uma série de commodities com preço em alta no mercado internacional. A China, atualmente, é praticamente a única produtora das chamadas “terras-raras” no mundo, com 97% da produção mundial.
As terras-raras são 17 produtos minerais utilizados na fabricação de equipamentos de alta tecnologia como iPads, celulares, etc, que a Foxconn se propõe a produzir no país.


Fontes: